Comprar roupas nos filmes e séries americanas tem um ar quase mítico, como aquele momento de princesa, de chamar as amigas e provar mil coisas, sair cheias de sacolas recheadas, belas pelas ruas ensolaradas. Visualizou essa cena hollywoodiana?
Acho que até queria me sentir assim, rs, mas a verdade é que nunca gostei de comprar roupas, raras são as vezes que me sinto realmente feliz - ou até confortável - nessa tarefa. O problema disso é que, querendo ou não, a roupa afeta o dia a dia. Ter um evento legal e feliz, mas se sentir frustrada mesmo antes de sair de casa por se achar feia em tudo é uó. E me sentia sozinha nesse sentimento - nunca nem gostei de ir às compras com companhia para não transbordar essa frustração.
Até conversar com uma grande amiga e confessar esse mal estar e descobrir que ela também achava comprar roupas uma tarefa chata e desconfortável. E percebi que estávamos no mesmo barco.
Temos a tradicional busca de opções que sirvam bem com tamanhos despadronizados que parecem que sempre só ficam bem em um único biotipo. Garimpar parece um desafio adicional, as fotos nos sites não dão uma boa noção do caimento, cada peça é um tamanho diferente, é preciso experimentar vários tamanhos por peça para entender o ideal - só de pensar nesse tempo todo num provador, eu já estou suando.
E o suor e a frustração parecem que andam juntos, quanto mais tempo passa, mais inadequada você se sente e menos certa de que há uma roupa boa por aí para você. [Claro que há, mas nessas horas parece difícil de acreditar].
Talvez esse sentimento de desconforto tenha sido reforçado na nossa geração, tão acostumada com compras online, que desaprendeu a lidar com vendedoras. Ser recebida por vendedoras que querem empurrar peças e mais peças, por vezes fora do orçamento pensado com responsabilidade financeira antes de entrar na loja. Até não gostar de nada gera frustração e culpa por provar mil peças e perder o tempo - seu e dela - e não comprar nada. Confesso que já me senti constrangida a ponto de comprar peças sem encantando algum - e depois sentir aquele gosto de arrependimento de gastar com algo que não te conquistou.
Sem falar nos preços! Esse é um papo que rende mil debates, mas para fins dessa edição, é mais um fator de estresse na saga das compras. O guarda-roupa precisa de variedade, ainda que mínima, de peças sociais para os dias de trabalho presencial, roupas para sair que te façam sentir bem, mas existe um limite de orçamento possível para ter essa quantidade mínima. E parece que há quase uma culpa de comprar em certas lojas mais fast fashion que, mesmo não estando baratas, são mais acessíveis. Diante de um orçamento, nem todas as peças poderão ser das lojas-desejo ou brechós trendy [que também apresentam desafio de tamanhos], pelo menos, por enquanto.
Essa saga parece dificultar até a entender o estilo que você quer para si - o que, as vezes, te faz olhar o armário e não se identificar com nada. Comprar uma peça ok só para acabar logo com essa função - e, só muito tempo depois percebe que, na verdade, mesmo servindo bem, essa peça não faz sentido nenhum no seu estilo e você acaba nunca usando. Com o tempo, algum nível de dedicação e autoconhecimento, isso vai melhorando, mas é algo que não veio naturalmente para mim, como parece ser com algumas pessoas [quem são? o que comem? onde vivem?].
Como não quero ser a mensageira do apocalipse das compras, compartilho alguns pontos que me ajudam nessa empreitada:
seguir pessoas e corpos parecidos com um estilo que você goste e se identifique. nem sempre é meu estilo (ou dentro do meu orçamento, rs), mas eu amo a
, que sempre abusa de cores, shapes, eu amo. ela sempre escreveu legendas super originais e divertidas e agora está com uma news nova que é uma delícia de ler.se organizar! enquanto não ganhamos na mega, pensar antes exatamente quais as peças que você sente falta no seu armário para comprar com sabedoria, ainda que você extrapole seu orçamento, vai ser algo que estava fazendo falta.
ser direta com vendedoras. alinhar suas necessidades de forma clara para evitar se sentir soterrada em peças que não te interessam. claro que existem as insistentes, mas é uma tentativa, rs.
Se você, cara leitora ou leitor, se der melhor com a moda do que eu, aceito graciosamente todos os conselhos, dicas, trupes, mandingas que você puder oferecer. Agradeço, desde já, esses comentários-manuais.
E termino esse texto com uma mensagem de esperança: a minha missão por roupas sociais terminou com algum nível de sucesso, com boas escolhas para os dias que tenho que ir presencialmente ao escritório. Garimpando promoções, encarando vendedoras, provando mil tamanhos e optando só pelas peças com o binômio caimento+paixão, nada de comprar um elefante branco.
Confesso que não sei o status da guerra, mas sinto que essa batalha foi vencida. Então há esperança.
Cultivar um estilo próprio é desafiador
Tudo que você escreveu, sem tirar nem por. De novo e de novo. Que tormento vestir mil peças, não gostar de nada e ainda ter que enfrentar a vendedora esperançosa na saída do provador. ui. É bom saber que há esperança, mas ainda me escondo nas compras online rs